12 Razões pelas quais vou participar na Marcha-Protesto contra a tauromaquia e todos os maus-tratos aos animais, no próximo dia 10 de Abril, pelas 14 h, com início no Campo Pequeno.
No dia 10 de Abril vou sair à rua porque:
1. Sinto ser fundamental dever de todo o ser humano ser solidário com todos os seres sencientes, em especial os que mais sofrem e os mais indefesos, humanos ou não-humanos.
2. Considero o especismo - a discriminação, opressão e instrumentalização de seres de espécie diferente - tão repugnante e injustificável como o racismo, o esclavagismo e o sexismo. E estou farto de viver num mundo onde se considera normal que um número imenso de seres, iguais a mim na capacidade de sentirem dor, prazer e emoções, seja quotidiana, sistemática e desnecessariamente sacrificado para a alimentação, o vestuário e o divertimento cruel dos humanos. Estou farto de viver num mundo de holocausto encoberto e silenciado.
3. Considero que a luta pela libertação dos animais é inseparável da luta pela libertação dos homens de todas as formas de opressão e exploração e que podem e devem ser travadas em simultâneo.
4. Considero que lutar pelos direitos dos animais torna os homens melhores, mais conscientes, sensíveis e generosos, individual e colectivamente.
5. Considero que maltratar os animais ofende não só as vítimas mas também os agressores, no mínimo degradando-os enquanto seres humanos. Conforme vários estudos demonstram, violentar os animais predispõe para violentar os humanos. Saio portanto à rua pelo bem de todos, vítimas e agressores, num espírito não-violento.
6. Quero melhorar o meu país e o mundo e lutar para que em Portugal os animais deixem de ser considerados objectos pelo Código Civil. Quero que o seu direito à vida e ao bem-estar seja reconhecido pela lei e que os atentados contra eles sejam efectivamente punidos.
7. Estou farto de viver num país onde, havendo tantas causas nobres e urgentes pelas quais lutar, humanitárias, animalistas e ecológicas, só vejo as multidões moverem-se para encher centros comerciais, estádios de futebol e ouvirem candidatos políticos que, mal eleitos, fazem precisamente o contrário do que prometeram. E estou farto de ver outras multidões aparvalharem-se em frente a programas de televisão medíocres ou distraírem-se das necessidades alheias com prazeres egoístas.
8. Estou farto de viver num país onde todos criticam tudo, mas poucos tomam a iniciativa de serem a diferença que desejam para o mundo. E respeito mas não aceito justificações espirituais e intelectuais para não se agir também no exterior, como se interior e exterior, ou conhecimento e acção, estivessem separados.
9. Acho inadmissível, enquanto cidadão, professor, escritor e agente cultural, que a tauromaquia seja promovida no Conselho Nacional de Cultura, com o dinheiro dos contribuintes, só porque a actual ministra é uma aficionada e leva os seus perniciosos gostos pessoais, bem como os interesses de um lobby minoritário, contrários à sensibilidade da maioria da população, para o exercício de um alto cargo público. Acho escandaloso e um autêntico insulto que a arte de torturar seres pacíficos e indefesos seja equiparada à actividade de todos aqueles que promovem a evolução das mentalidades criando beleza e aumentando a inteligibilidade do mundo.
10. Aprendi com Buda, São Francisco de Assis, Antero de Quental, Gandhi, Agostinho da Silva e o XIV Dalai Lama, entre muitos outros, que todos os seres são igualmente dignos de amor e compaixão e, também como membro e representante da União Budista Portuguesa, da Associação Agostinho da Silva, do Movimento Outro Portugal e do Partido pelos Animais, quero ser fiel ao que tão ilustres mestres e professores me ensinaram.
11. Reconheço a minha imperfeição e quero tornar-me um ser humano melhor, sabendo que não basta vir um dia para a rua, mas que isso é um testemunho fundamental para que o poder político, os órgãos de comunicação social e a opinião pública saibam que há quem não se conforme e que as vítimas mudas e indefesas têm uma voz que as defende.
12. Saio à rua no dia 10 de Abril porque estou farto de viver num país e num mundo dominados por todos os tipos de lobbies, à excepção de um, que quero ajudar a criar: o lobby da consciência ética, da sensibilidade, do amor e da compaixão, que nos faça decidir sempre em prol do bem comum de todos os seres e do equilíbrio ecológico. E saio à rua no dia 10 de Abril porque sei que estas e/ou outras são as tuas razões, amiga/amigo leitor(a), e que lá te encontrarei para caminharmos lado a lado por um mundo melhor para todos, humanos e não-humanos.
Paulo Borges
Lisboa, 3 de Abril de 2010
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